terça-feira, 31 de agosto de 2010

"Mucho flow y poco cash"

Estampa handmade da Oficina de Hechos. 
Sem meias palavras, com muita honestidade, leveza e bom humor. Assim, o atelie espanhol Oficina de Hechos, localizado na praia de Sopelana (Biskaia), traduz uma das facetas do surf (e da vida!) sob um olhar muito especial & libertador, pois talvez a questão essencial não esteja em ter ou não ter dinheiro, mas sim, na forma com que nos relacionamos com ele. Me parece que nesse sentido, ao optarmos por termos apenas o suficiente e o necessário, nos livramos de um grande fardo de preocupações e conquistamos a possibilidade de vivermos de forma mais simples e menos impactante, sem pressa, nem cobranças e de quebra, com "mucho flow"!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Finless: Paris longboarding

Finless: Paris longboarding.
"(...) you get a different feel for spots, and the way you ride. Its not about the thrill of speed, not about the next crossstep (...) its more the feel of the city that is blowing your mind."
Robin Stummvoll; Finless.

O vídeo a seguir é um trecho do filme alemão "Finless", de Robin Stummvoll. Ainda em andamento, "Finless" é um sensível registro de viagens e sentimentos vivenciados a partir das experiencias com longboard, skateboard, snowboard e surf.



Riders and filmers: Robin Stummvoll & Michael Hehn
Music by Patrick Watson
album: wooden arms
song: tracy´s waters

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Consciência & diversão: Skateboard, handplanes e surfboards

Definitivamente tudo se transforma, recriando-se e rearranjando-se continuamente. A possibilidade de darmos novos usos e significados às coisas que provavelmente descartaríamos, é sem dúvida o caminho menos impactante que podemos trilhar numa época onde a obsolescência dos objetos (e das relações humanas também!) é vertiginosa. Sigamos nós na contra-mão desse consumismo sem sentido. Sigamos usufruindo apenas o suficiente e o necessário. No mais, reinventemos nossa relação com o mundo a partir de um velho skate, de uma velha prancha (inteira ou quebrada!).

 Que tal sentir a força do oceano em suas mãos, a partir do seu velho skate? Essa é a proposta desse video da série "Surf Sufficient", da Korduroy TV.  

 
Skateboard Handplane- Surf Sufficient from www.KORDUROY.tv on Vimeo.
Câmera e edição de Erik Derman.

Para quem se interessar pelo assunto, vale uma conferiada no recente (e excelente!) filme "Roots Time" (leia a matéria sobre esse filme aqui), produzido numa parceria do site Surf&Cult , Siebert Surfboards e a revista Hardcore:






Em tempo, vale conhecer também o trabalho que Ed Lewis e Kipp Denslow desenvolvem na Enjoy Handplanes. Os caras recebem doações de pranchas quebradas e wetsuits velhinhos para serem reciclados e transformados em estilosos handplanes como estes:





quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Point Never e o valor do vazio


Capas da primeira e segunda edição da inglesa Point Never.

 "Go and find your blank, make what you want to make, surf how you want to surf (...)"

Hoje, permitir-se esvaziar-se de tudo que nos é mercadologicamente empurrado e socialmente imposto garganta abaixo, é algo vital, uma questão de sobrevivência contemporânea. Então quando  nos libertamos dos padrões estabelecidos, conquistamos um imenso espaço mental, um espaço de lucidez interior, que nos possibilita partir para novas experiências & referências e que nos dá o discernimento necessário, para sermos preenchidos novamente, mas agora de forma consciente e seletiva, por coisas que realmente nos tocam pela natureza essencial que possuem e nada mais.
"Point Never is an independent publication devoted to the diffusion of images and texts relating to surf and skateboarding culture; a portrayal of multiple truths, mythologies, abstractions, antipodes, commonalities and communities."

Point Never

Assim se anuncia essa revista inglesa, que já em sua segunda edição é dona de um projeto gráfico autoral, dada sua composição que, na contra mão dos maneirismos gráficos atuais, adota e explora com maestria o espaço em branco como elemento projetual, permitindo o surgimento de grandes áreas de respiro pelas páginas, que valorizam as fotografias, ilustrações (por sinal, não digitais! Wow!) e o pouco texto, o que a aproxima de uma estética nipônica onde impera tão somente & simplesmente, o essencial.


E é nesse raríssimo exercício de discernimento visual e de conteúdo, mora a maior característica da Point Never, que além de sua versão digital, pode ser lida em versão impressa, em tiragem limitada de 200 exemplares rodados em papel offset, P/B, no formato de 15x21cm. Desde 28 de julho a Point Never tem doado 1/6 da venda de cada exemplar para o National Geographic Society Oceans Project.

A versão impressa pode ser encomendada pelo email post@point-never.com .

Irezumi Bijin: Kaname e Horiyoshi III

Numa parceria da Known Gallery e Tattoo Hollywood, inicia-se hoje em Los Angeles a exposição “Irezumi Bijin”

“Irezumi Bijin” reúne os trabalhos de dois grandes mestres das artes japonesas, o pintor Ozuma Kaname e o tatuador Horiyoshi III, estabelecendo de maneira sutil um diálogo entre suas obras e evidenciando a influencia que imprimem mutuamente contaminando seus universos. Como herdeiros legítimos das técnicas e motivos ancestrais, transmitidas numa linhagem ininterrupta de geração a geração, seus trabalhos permitem-se influenciarem-se mutuamente, num movimento de continuo diálogo e cuidadosa releitura.

Ozuma Kanemo em seu atelier. Foto Alex Reinke / Matti Sedholm (Kofuu-Senju Publications)
 Ozuma Kaname, nascido em Niigata em 1939, ainda jovem, iniciou seus estudos na pintura tradicional japonesa sob a supervisão de seu tio, o artista Sakai Soushi. Aos 18 anos muda-se para Tóquio, onde se inicia como negociador de arte numa empresa gráfica. Posteriormente emprega-se em uma editora onde desenvolve desenhos para tatuagens. Desse momento a diante, a maior parte de sua obra é pautada por uma relação íntima com a tatuagem e outros temas tradicionais japoneses, motivo pelo qual, tornou-se uma grande referência e fonte de inspiração para o mestre tatuador Horiyoshi III, cujas belas clientes são frequentemente retratadas em suas pinturas.

Horiyoshi III, o grande mestre do Tebori. Foto FreshnessMag.
Horiyoshi III nasceu Yoshihito Nakano, em 1946, recebeu o título honorífico de Horiyoshi III.  “Hori” é o prefixo que significa “gravar”, no sentido de perpetuar a linhagem de tatuadores iniciada pelo seu mestre, o lendário tatuador Yoshitsugo Muramatsu (ou Shodai Muramatsu, de Yokohama) e posteriormente herdada por seu filho Horiyoshi II.

No universo imagético de Horiyoshi III reinam os motivos clássicos das tradicionais xilogravuras japonesas como a fênix, serpentes, dragões, tigres, samurais, Budas e Bodhissatvas, entre outros, que compõem seus famosos "horimono" (os grande painéis de tatuagens japoneses, body suit). Todos esses motivos são adornados por um background constituído por elementos também clássicos, como os motivos de nuvens, ondas e flores, de grande simbolismo na cultura japonesa, como o crisântemo, lótus e sakura.

Abaixo um registro viceral, que apresenta a beleza ancestral do trabalho desse mestre tatuador:



Bem, pode parecer off-topic um post sobre tatuagem japonesa num blog sobre longboard, mas a cultura surf está tão atrelada a essa primitiva forma de body art que é quase impossível separá-las. Mas e o fato de serem japonesas? Ora, nem só de havaianos, polinésios, alaias & olos foi construída a história do surf! Nesse período embrionário entre o final do século IX e início do século XX, os antigos habitantes do arquipélago japonês, já deslizavam sob as ondas com suas primitivas pranchas de madeira, chamadas “itaka”!


Assim, essa combinação de tintas & agulhas afiadas, que riscam a pele, é capaz de compartilhar da mesma beleza e harmonia de uma prancha de madeira, que desenha sua presença na onda & no asfalto.

IREZUMI BIJIN
Known Gallery
441 North Fairfax Avenue
Los Angeles, CA 90036
310-860-6263
info@knowngallery.com

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Brasil: Super 8, skateboard & diversão, nos 70



A década de 70 esconde muitas histórias, algumas passagens obscurecidas pela violência dos Anos de Chumbo e outras nem tanto. Aqui estão algumas dessas últimas que se salvaram no tempo e que valem apena serem conhecidas, lembradas & celebradas! São filmes em Super 8 que registraram, nesse período, os primórdios do skateboard no Brasil.  “Rua Maria Angélica”, no Rio de Janeiro, “Lomba da Hidráulica”, em Porto Alegre, “Alto da Afonso Pena”, em BH, “Descida do Bispo”, em Campinas, ilustram alguns dos picos da época que foram o palco desse momento histórico da descobertas de novas sensações & de novas possibilidades para experiênciar as cidades.

Os registros de Belo Horizonte, são do acervo familiar do John Ulhoa, do Pato Fu, que de quebra conta um pouco sobre o (divertido) espírito desses velhos tempos! "Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei, pra você correr macio...".
(...) meu 'esqueite' era do tipo remediado. Fazia meus próprios shapes de madeirite! Que tosquera, jesuzo!"
John Ulhoa
essas cenas foram filmadas na super-8 de meu pai, acho que uma boa parte dos principais skatistas de BH dessa geração está nelas. Muitas vezes depois das sessões íamos pro apartamento onde eu morava com meus pais assistir em bando (fedido de suor) esses filminhos. 
John Ulhoa


Os filmes abaixo estão em ordem cronológica decrescente:

Campinas e Região, meados dos 70 e início de 80.







Belo Horizonte, final dos 70




Rio de Janeiro, 1974




Porto Alegre, 1973

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Thirst Boards: Good to sea

Onda verde! Sequência estilera no Parque São Lourenço. Foto Thirst Boards.


Esse é um vídeo com muito surf style da curitibana Thirst Boards.





Nesse video eles utilizam em seus longs um mecanismo que acoplado ao truck cria a possibilidade de novas manobras ao permirtir movimentos mais livres e curvas mais cavadas. No site da marca há um video com a demonstração do funcionamento do mecanismo desse simulador.

Simulador de surf.

Rider:
George Leonardo Michel

Equipment:
Thirstboards 42" w Thirst Simulator, Crail Trucks, Orangatang Wheels In Heat 75mm 80a
Thirstboards 34" w Thirst Simulator, Crail Trucks, Moska Wheels Speed 65mm 80a

Camera:
Anne Caroline
William Oliveira

Just noseriding...

Pé no bico nas manhãs de domingo... num Siebert 60" ;)

The Old Guy surfing the city! Foto Soraya Nobre.

It's TricKAY!

Mais um videozinho da alemã Langbrett!


Langbrett Tricky from Eric Van Wyke on Vimeo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sem fôlego!

A marca inglesa de energéticos, Relentless, propôs um concurso de curtas chamado “Short Stories”, onde filmmakers capturam e revelam a forma viceral com que celebram e encaram a vida.

"...this little lifestyle of travelling and documenting has taken me round the world more times than I can count, and I feel incredibly lucky to live this way, exploring the world for the heaviest waveriding environments I can encounter, all the while chasing simple dreams."
Mickey Smith em entrevista para BBC

Assim o fotógrafo Mickey Smith, construiu “Dark side of the Lens”. Narrado pelo próprio Mickey, esse é um curta de imagens impecáveis e silenciosamente poderososas, que nos deixam fragilizados e quase sem fôlego. "Dark side of the lens" nos propõe retratos naturais, em movimento. Retratos capazes de nos religar ao mundo através de sua beleza crua, que acima de tudo aponta e amplifica a relação possível e sem meios termos, entre o homem e a natureza. Ali estamos de igual para igual, despidos de sentimentos de arrogância ou de inferioridade. Ali, apenas a atitude honesta de contemplar e compartilhar o tempo através do admirável respeito pelo outro, pelo que nos cerca.

O fotógrafo Mickey Smith.



sábado, 21 de agosto de 2010

Havaí, 1975: The Wallows!



Esse famoso pico havaiano, que ficou conhecido em 87 através do filme "The Search for Animal Chin" (de Stacy Peralta), onde a Bones Brigade (com Tony Hawk, Steve Caballero, Mike McGill, Lance Mountain e Tommy Guerrero) viajam por diferentes picos na Califórnia, Nevada e Havaí atrás do "Animal" Chin.

Mas é de quase 10 anos antes (de 1975, talvez 76) que surge um raro registro desse mesmo pico, um canal de drenagem (Wallows) localizado na ilha de Oahu. A gravação original de Art Hottendorf , com a ajuda de Kalani Aweau na câmera, documenta uma session do próprio Hottendorf com o amigo John Jardine. Essas imagens foram aproveitadas e utilizadas nesse breve documentário produzido por Will Lucas (Surf64 Productions), e que conta com depoimento e narração de Hottendorf.

Diferentemente do filme de Peralta, esse filme apresenta um ride honesto, fluido, completamente enraizado no surf e diretamente influenciado pelo estilo da época (leia-se Larry Bertleman).

Aloha!

Country surfing


Langbrett Country from Eric Van Wyke on Vimeo.


Mais um filminho da alemã Langbrett. Cruising para inspirar um role pela manhã de domingo. Bom pic nic!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

18" - O pequeno 'foguete' da Hussein Classic Boards

Mini de 18" da Hussein Classic Boards. Shape flat e swallow tail finalizando o outline.
Criados e assinados a quatro mãos pelos amigos de longuíssima data, Fábio e Renato, os shapes handmades da Hussein Classic Boards recriam e transmitem com muita autenticidade, toda a atmosfera familiar de amizade, descontração & diversão, desses dois soul riders.

 "(...) sempre tá saindo algo novo, modelo novo e é até engraçado. Às vezes, quando acabamos de fazer um shape, independente do tamanho dele, a gente pira:  - 'Caramba, esse não vou vender. Vou pegar pra mim!' "
Fábio Gomes  (Hussein Classic Boards)

Como me contou Fábio, esse pequeno notável não só já ganhou apelidos, como também já gravou sua história na clássica ladeira do Museu do Ipiranga, em São Paulo. Com suas medidas únicas, de 45cm de comprimento por 16cm de largura, o 'foguetinho' da Hussein vem superando todas expectativas de ride.

Foguetinho montado!
O pequeno é valente. Encarou o desafio de levar o rider Rogério "Rojão" para um passeio mágico na ladeira do Ipiranga.

"(...) mal dá pra por os pés em cima dele, mas tem caras como o Rogério "Rojão", com quase dois metros de altura (!) que conseguem mandar 'Old School One Foot Hands Off' cabulosos ladeira abaixo, é mole?!!"
Fábio Gomes (Hussein Classic Boards)

Não é mole não meu camarada! Mas para os mais incrédulos, fica aqui o registro!

Rogério "Rojão" ripando com o 18", num "Old School One Foot Hands Off" irado!

A singeleza cativante de Hannes Coetzee



Lembro-me da primeira vez que ouvi música sul africana. Foi na casa do Portinho, ainda na época da faculdade. Na sala havia uma estante entupida de fitas cassetes (!) e um dia, fuçando como de costume achei uma fitinha do Ladysmith Black Mambazo. Botei pra tocar. Ouvi. Eram vozes cativantes, enraizadas, honestas. Música que atravessava oceanos. Essa semana descobri um sul africano chamado Hannes Coetzee. Cliquei. Assisti. Novamente me deparei com uma música cativante, enraizada & honesta, mas de uma singeleza sem igual, que também a tornava capaz de atravessar oceanos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O tubo e a Mantiqueira

Em tempo, meu post do Dia dos Pais! Para ilustrá-lo, um video do fotógrafo & filmmaker australiano, autor do belíssimo "Lines from a poem", Nathan Oldfield. O vídeo abaixo é um registro de uma session matinal do rider Johnny Gill (The Critical Slide Society) com seu filho Wylie. Pés no old school!


Concrete Slidery from Nathan Oldfield on Vimeo.


Todos os dias, ainda quando o sol não deu de vez as caras e a outra metade da casa ainda dorme, eu e K. já iniciamos mais um dia. Enquanto meu filho corre pro banho, arrumo a mesa de forma simples. Deixo lá sua caneca com leite, umas frutas lavadas & tals. Na cozinha, aproveito e mando um copo de água com o suco de um limão, para depois preparar o café no velho coador de pano, que me segue há anos.

Já passava das sete da manhã quando pegamos nossos longs e fomos pra rua. Por conta do asfalto ruim descemos todos os dias com os longs embaixo do braço até uma avenida coberta, de descida suave e regular, que fica há duas quadras de casa. Geralmente essa avenida tem um trânsito de carros que se intensifica no decorrer do dia, mas nesse horário costuma ser bem tranquilo, o que torna menos perigoso nosso trajeto. Mas nesse dia em especial, quase chegando à avenida, não ouvíamos e nem víamos ainda, nenhum carro se quer. Ao chegar lá, percebemos que a avenida estava fechada e já quase no final da descida, estavam  montado a estrutura de um imenso palco.

Sem pensar duas vezes subimos até seu início para aproveitarmos mais a sessão. Trocamos as mochilas como de costume (já que a mochila dele, por incrível que pareça é dez vezes mais pesada que a minha!) e descemos tranquilamente a avenida explorando toda sua largura e extensão. Sem carros, o asfalto era nosso.

Bem, o plano era parar quando chegássemos até as obras do palco, pois não havia passagem pelas laterais por conta de tantas ferragens, operários e containers. Mas enquanto nos aproximávamos, percebi que dava pra passarmos por baixo da estrutura do palco (!) e sem pensar duas vezes, olhei pra trás e gritei para ele:

- Não para! Não para! Bora! Bora!

Em questão de segundos, fomos abraçados por aquela imensa onda de ferragens, canos & parafusos que se fechava bem em cima de nós! Enquanto percorríamos com perfeição nosso “tubo” veio àquela sensação mágica. Sabe aquela coisa de você olhar em volta e tudo ao seu redor parece estar em slow motion?! Pois é. Segundos transformaram-se em longos minutos. Mas, tão logo passávamos por baixo do palco tivemos que colar ainda mais no deck, pois já na saída havia um cabo de aço tensionado que amarrava a estrutura e cortava a altura da passagem pela metade! Foi meio apavorante dar de cara com isso, mas ao mesmo tempo, muito irado também!

Quando saímos do outro lado do palco, a Serra da Mantiqueira, iluminada pelos primeiros raios de sol, descortinava-se entre os prédios bem a nossa frente. Então nos olhamos tempo suficiente para reconhecer nossos próprios sorrisos no rosto do outro. Enfim, não havia sido nada demais para quem assistiu a cena de fora, mas ter seu filho ao lado para viver e compartilhar essa experiência de maneira tão íntima e intensa é de uma cumplicidade infinita, memorável!

Era a vida acontecendo dentro da vida e no final das contas, para nós restava apenas à certeza de termos sido parte da melhor parte dela.

Mäki Longboards na Sacred Craft 2010

Neste último fim de semana rolou em San Diego, a Sacred Craft, uma importante surf expo americana, que iniciou sua história focada apenas nas surfboards, mas aos poucos foi ampliando sua abordagem para toda a cultura que gira em torno delas. Nessa edição do evento (que presta homenagens ao surfista & shaper australiano Simon Anderson), contou com a presença de mais de 100 expositores entre importantes shapers & marcas americanas.
"Long, short, no-fin, 5-fin, wide, narrow, thick, thin, old, new, wood, foam, carbon, hand shaped, molded, standup, kneeboard, handplane, you name it, the surfboard remains front & center at Sacred Craft."

Nosso amigo Erik Mäki (Mäki Longboards), em parceria com a Entropy Bio-Resin & Podunk Surfboards, criaram um criativo display para apresentarem apenas produtos desenvolvidos com os bio-epoxies "SuperSap" e "SurfSap". No estande os boards da Lost, Fletcher Chouinard Designs, Podunk, e claro, da Mäki Longboards. Foram mais de 800 inscritos para os sorteios de 2 pranchas da Podunk e 1 Mini Mäki Longboard (23").

Estande da Entropy Bio-Resin, Podunk Surfboards & Mäki Longboards na Sacred Craft 2010.

Erik e suas criações.

 Keep riding Erik!

Jóia de colecionador, na Sacred  Craft:



Andrea Siedsma entrevista para Board Riders Review, as lendas Robert August e Dick Brewer, na Sacred Craft de 2009:



terça-feira, 17 de agosto de 2010

"Without thought": Infinita(mente) agora


without thought trailer from Ollie Banks on Vimeo.

"Feeling connected to nature is the best thing about surfing, this film searches that connection." 
Dan Crockett (entrevista para o site Korduroy)

 Foram dez anos entre idéia e realização, para surgir um documentário breve, de doze minutos apenas, porém com um argumento poderoso e muito instigante por sua natureza subjetiva e sensível. Rodado a seis mãos por Ollie Banks, Daniel Crockett e John Eldridge, "Without thought" (2010) lança um olhar sensível e apurado sob o momento de comunhão no surf, entre o homem e a natureza, entre o estado de fluição do surfista e sua experiência de fruição na onda. A fim de articular esses significados, o filme é ilustrado com a entrevista de um antigo surfista do nordeste inglês, Mark Dickison.

DVD e prints que acompanharam as 30 primeiras edições.

Sem dúvida alguma essa significativa experiência de unicidade, já vivenciada por alguns riders, é acima de tudo uma experiência solitária, interior e para muitos, espiritual. Parece-me que essa experiência surge apenas quando conseguimos nos libertar de nossa mente conceitual, pois é a partir dessa mente densa, que estabelecemos a (distorcida) percepção primária do "eu" e do "outro". A partir da qual nos separamos do mundo, pois passamos a apreender e reconhecer absolutamente todos os fenômenos ao nosso redor de maneira dual, como se existissem inerentemente, de forma autônoma e em separados de nós. Negamos então nossa condição dependente-relacionada e sistêmica de existência.

Dessa forma, vivendo de maneira auto-centrada, a partir dos nossos próprios interesses e desejos (em detrimento dos outros seres e do próprio meio em que vivemos), nos colocamos em absoluta desarmonia com esse organismo vivo do qual somos uma parte ínfima, porém essencial. Não distante, nos deparamos hoje diante de um eminente colapso ambiental.

Portanto, quando conseguimos nos libertar dessa mente conceitual e seus pensamentos distrativos, seremos capazes de reconhecer nossa natureza última e então nos posicionar harmoniosamente no mundo. Para essa aventurosa jornada interior, precisamos apenas nos manter plenamente atentos ao agora, ao tempo presente, que em última instância, é o único momento onde a vida efetivamente acontece, onde o verbo não conjuga passado nem futuro, onde não há adjetivos, onde as coisas simplesmente são o que são, únicas, porém integradas. Então descobriremos a impermanência e transitoriedade pulsante no presente que faz com que tudo se organize em constante transformação e mudança. Isso torna nossa vida especial, pois são instantes que não se repetem jamais.

Quando não percebemos a fugacidade que permeia tudo, criamos rotinas maçantes e superficializamos nossas relações pessoais e nossas experiências diárias. Então, cada onda surfada, cada ladeira percorrida, torna-se experiências banais e sem essência alguma. Simplesmente estamos desperdiçando a vida que nos acontece, a qual poderíamos vivenciá-la da melhor forma possível.

Bem, sobre "Without thought" creio que é uma belíssima tentativa de desvendar esse sublime momento quando seremos como a água vertendo na água, sem separação, nem discriminações e quando esse instante chegar meus caros, a onda deixará de existir, assim como o próprio surfista e a mente que os apreende. Nos tornaremos então, perfeitamente unos (novamente).

Foto: Ollie Banks.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Surfeeling: Surf em cada polegada

Foto: André Mantese / Revista Solto.
A gaúcha Surfeeling, surgida em 1999 (inicialmente com foco no surfwear) lançou recentemente sua divisão de skates com um quiver dirigido para um público bem específico: os surfistas. Determinados em levar até as últimas consequências a experiência do surf para as ruas, os irmãos Wainer e Wagner Kesterke pensaram em cada detalhe de seus longboards. Detalhes que vão do outline dos shapes, adoção de trucks de torsão e até na fabricação de suas próprias rodas num vivo azul oceânico, que certamente provocará o imagináio de qualquer rider. 

Da esquerda para a direita: The Fish Feel 70's (32"), The Leaf (31"), The Surfer Bee (26,5") e The Rocket (32").


60" ENTREVISTA
Nessas próximas linhas, Wainer e Wagner nos revelam detalhes sobre seus longs, seus sonhos e desafios.

60" Como surgiu a divisão de skates na Surfeeling e por que a opção por um público tão dirigido?
Wainer / Wagner:
Com uma necessidade e carência que o mercado sofria na época de um produto novo, deixamos suspensa a confecção e começamos a desenvolver um skate dedicado ao surfista; Sonho antigo que tínhamos e sentíamos falta desde a nossa infância. Até então o surfista tinha que se adequar a uma modalidade de skate imaginando que estivesse surfando, então desenvolvemos um skate que pudesse transmitir a sensação do movimento do surf em qualquer lugar (ladeira, rua ou calçada).  

Cada detalhe foi planejado especialmente para os surfistas, tanto na parte visual do design dos shapes com acabamentos e logos até a parte técnica como entre eixos, rodas, rolamento de 1º linha blindagem P.U e trucks inovadores. Cada skateboard surfeeling possui uma maneira de andar específica, mas todos com a mesma sensação, a de surfar.


Hoje com a correria do dia-a-dia nem sempre podemos ir à praia todos os dias ou finais de semana, ou chegamos à praia e nos deparamos com o mar em condições ruins para o surf. Com isso, desenvolvemos 4 modelos de skate para transmitir a sensação do surf às ruas. Nada mais justo que retribuir aos criadores do skate.


60" Como vocês veem esse crescente interesse pelo surf style no asfalto?
W/W: O skate surgiu através do surf e com o tempo se tornou um esporte independente, mas há alguns anos retomou a ligação com o surf de uma forma moderna com base nas manobras executadas nas rampas. Lá fora esse segmento “surf style”, “life style” do skate já está forte há algum tempo, aqui no Brasil vem crescendo rápido como uma alternativa para os que não gostam de manobras, ou seja, usam o skate para curtir sem compromisso. A tendência é se tornar cada vez mais frequente, pois abrange diversas faixas etárias.

60" Nessa transposição do surf para as ruas, tudo é (realmente) possível, como afirmou Larry Bertlemann nos anos 70?
W/W: Isso é o que sempre buscamos. No skate, a “onda” está sempre ali esperando você surfá-la. Tentamos transmitir o máximo da sensação do surf às ruas através dos skates não só na parte estética, mas também implementando alta tecnologia. Se analisarmos uma simples árvore pode se tornar um tubo, o meio fio (cordão da calçada) pode ser o lip da onda, e uma entrada de garagem pode ser uma parede para uma boa rasgada. Basta usar a imaginação que a mesma calçada nunca vai ser igual.

60" Anteriormente vocês haviam comentado que seus shapes são fabricados fora do país. Vocês poderiam comentar mais sobre essa opção?
W/W: Não digo que foi uma opção e sim uma necessidade, pois não encontramos uma mão-de-obra qualificada e dedicada ao nosso propósito. Este trabalho é quase artesanal. O sistema da confecção do shape é o mesmo, mas com relação ao acabamento buscamos sempre melhorar. Desenvolvemos 4 modelos de shapes exclusivos com acabamento em madeira natural e com 2 camadas de verniz a base de poliuretano, o que o torna impermeável à medida que o surfista possa estar molhado quando sai da água e andar tranquilamente no seu skate Surfeeling.

Trucks de torsão Revenge.

60" A Surfeeling é importadora e distribuidora dos trucks Revenge no Brasil. Qual o diferencial desses trucks de outros trucks de torsão?
W/W: O Truck Revenge é um truck de torsão fabricado em alumínio reciclado dividido em apenas 3 partes, base, bucha, eixo. Trabalha em ângulo de 45º o que proporciona um giro completo de 360º em menos de 2,40 m, com base em um shape de tamanho 1,20 m. Não necessitam de uso de elevadores (com uso de rodas de tamanho até 73mm) como os outros trucks, pois possui um sistema limitador que não deixa as rodas morderem o shape. Graças à bucha de poliuretano de alta performance é possível deixar o truck solto que assim mesmo vão ser seguros na hora de fazer a curva, ou seja, pode fazer a curva mais acentuada que ele vai retornar a posição de origem.

Detalhe para as rodas azuis, que completam o visual numa clara alusão ao mar.
60" As rodas (65mm/78a) são da própria Surfeeling. Nos conte um pouco sobre elas e o por que optaram por produzí-las? Elas também são desenvolvidas fora do país?
W/W: As rodas também são desenvolvidas nos Estados Unidos, pois é fabricada em um poliuretano específico de alta performance importado e que não chega ao mercado nacional. Tomamos o cuidado não apenas estético das rodas, mas sim do formato e químico, desenvolvemos em conjunto com o fabricante uma fórmula própria que se moldasse ao nosso projeto. Uma roda de alta performance que não esfarela, não lasca, com alta memória, macia, silenciosa, rápida e que quando exigida de alta aderência. Por isso optamos pela própria produção. Em breve lançaremos novos formatos de rodas.

60" Há a intenção de se criar novos shapes com dimensões e outline mais voltados para o estilo do surf clássico?
W/W: Com certeza! Estamos sempre buscando desenvolver produtos novos que possam atender as necessidades do consumidor. Já temos projetos para formatos de shapes diferentes, novidades em breve!

Queremos agradecer o contato com a Surfeeling e parabenizar o blog 60 polegadas, dedicado ao surf style no skate, pelo ótimo trabalho que estão fazendo. É um prazer para nós da Surfeeling colaborar para o blog. 


Abaixo o quiver da Surfeeling e detalhes dos quatros modelos:



Para saber mais sobre os longs da surfeeling acessem o site oficial.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

The hangover of a pop culture

Alex Knost e Tyler Manson.

Por falar em cinema fica a dica: "Beach Blanket Burnout: The hangover of a pop culture", um dos últimos trabalhos do diretor australiano radicado na California, Tyler Manson. Produzido em parceria criativa com o inquieto Alex Knost, longboarder, músico (Japanese Motors), pintor e poeta (!) esse curta foi apoiado pela  RVCA (marca do diretor de criação PM Tenore, que possui também uma divisão de skates) e pela revista de arte ANP Quarterly.

Noir!

Premiere do filme na Hope Gallery




Mais informações acessem o site de Tyler.

sábado, 7 de agosto de 2010

Mundo flutuante: a poesia visual de Spyder Wills & Greg Weaver




Indicação do meu bom & velho amigo Pedro (o qual estou em dívida com uma ilustração!!), esse vídeo é pura inspiração!!! O primeiro minuto é poesia pura, ou melhor, o puro cinema, no sentido proclamado por Kiarostami, da narrativa puramente visual emancipada do verbo. Numa única tomada, essa sequência memorável de curvas, noseride, spinners e cross stepping ganha tons surreais ao serem encenadas "no ar" (com o longboard oculto pelo calor que irradia do asfalto) e então é eternizada no imaginário de cada um de nós.


Esse é um trecho do filme "Downhill Motion", de 75, produzido pela dupla Spyder Wills & Greg Weaver, dois dos mais importantes nomes da filmografia e fotografia no surf. Essa indicação foi uma dupla surpresa, pois eu não conhecia esse filme e tão pouco sabia que era de Spyder & Weaver. 


Greg Weaver.
Spyder Wills.

Se quiserem saber um pouco mais sobre os registros visuais desses caras, sugiro que assistam o filme "Chasing the Lotus" (2006), do diretor Gregory Schell. Sem dúvida alguma, um mergulho fascinante através das lentes que recortaram e construíram o imaginário de uma cultura, de uma época.






sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Jay Boy & Hawaiian Koa SurfSk8 25"

Por falar em skateboards vintages, foi graças à valiosa indicação do amigo Felipe (Siebert Surfboards), que tomei contato com a mais recente aposta & criação de Jay Adams, que em parceria com o amigo de anos, Jef Hartsel, volta com muito gás ao retomar a histórica EZ Ryder Originalz, fundada pela família Adams em 1975. Para nos situar na timeline da história do skate, a EZ Ryder, sucede a lendária Zephyr, antecedendo-se assim, no surgimento de outros tantos importantes nomes como a Z Flex, Alva Skates & Dogtown.

Com a promessa de resgatar a história, a essência original & verdadeiro estilo dos velhos tempos da EZ Ryder, Jay confecciona, com um espantoso rigor histórico, uma edição limitada de 50 réplicas incríveis dos primeiros skateboards (vide post anterior).





O resultado desse minuncioso trabalho é de encher os olhos de qualquer colecionador, já que a sofisticação dessa réplica começa com a escolha a dedo da madeira: a nobre Koa*!

*Koa é uma madeira (literalmente) nobre da família das Acacia. Endêmica no Havaí (especialmente Maui e Oahu), sua madeira era muito utilizada pelos antigos habitantes do arquipélogo, na confecção de importantes objetos como pranchas, remos, canoas entre outros, reservados então, para o uso exclusivo das castas mais nobres da sociedade da época. Vale ressaltar que Jay, utilizou-se apenas das madeiras de árvores caídas naturalmente.

Esse rigor no design de seu "Hawaiian Koa SurfSk8", pode ser conferido em cada detalhe:

Shapes de 25" verticalmente laminados, confeccionados em Koa, com ...

... outline e decoração vintage, round rails e desenho retrô dos trucks em alumínio.

Rodas bicolores de argila (!) e o rolamentos com as esferas à vista.

Logotipo gravado no bottom...

... e pra coroar como uma obra de arte, a marcação manual típica das gravuras (o número da réplica seguido do total da série, por exemplo, a primeira cópia de uma série de 50 gravuras, receberia a marcação 1/50).


Ready to shred! Barefoot riding com o Hawaiian Koa 25":

Jay Adams, Havaí / Foto R. Toyama.

Hawaiian Koa em ação, Havaí / Foto R. Toyama

 Barefoot no Aala Skatepark,  Havaí / Foto Eri Hartsel.

Mais informações acessem o site oficial.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Skates com história para contar

Esses skates já viram muita coisa, já percorreram um longo caminho até aqui! São modelos do início dos anos 60, quando o surf era a grande referência & inspiração e o grande barato era a diversão sem compromisso. Nessa época, a juventude com os pés descalços, rasgavam as calçadas dos bairros com seus shapes sem lixa, em madeira maciça, rodas de metal ou argila e trucks que cumpriam simplesmente seu papel de eixo e nada mais. Isso era o que bastava.


Roller Derby #10 (19")
Essa é uma pequena jóia americana dos anos 60. A pintura vermelha contrastando com o grafismo em branco, bem como o próprio outline, lhe conferem uma beleza pop referenciada visualmente nas placas praianas de aviso (de fazer inveja a qualquer Andy Warhol!).



Surfa Sam 
Esse modelo com rodas (Detroit Super Wheels) e trucks originais, acabamento natural (havia também nas versões azul e vermelho), grafismos em branco (e uma pátina especial conquistada com anos de uso!), fez com que o Surfa Sam ganhasse popularidade, tornando-se um ícone entre os skates australianos da época.



Surf Skate, Midget Farrely (27")
Mais um australiano de meados dos 60. Shape em madeira maciça, visual clean, apenas com o logotipo gravado no deck. Detalhe para as bordas mais finas (knife rail) que agregam muita elegância a esse shape, que sem dúvida foi um dos mais cobiçados na época. (O meu favorito!)



GT, Webcraft (30")
Com suas quase 30" de comprimento e visual bastante limpo, com o logo gravado no bottom, esse skate americano da Webcraft, sediada em Victoria, ganha status de longboard para época.



Fonte: Von Weirdos - The Surf Traders' Emporium.