quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O tubo e a Mantiqueira

Em tempo, meu post do Dia dos Pais! Para ilustrá-lo, um video do fotógrafo & filmmaker australiano, autor do belíssimo "Lines from a poem", Nathan Oldfield. O vídeo abaixo é um registro de uma session matinal do rider Johnny Gill (The Critical Slide Society) com seu filho Wylie. Pés no old school!


Concrete Slidery from Nathan Oldfield on Vimeo.


Todos os dias, ainda quando o sol não deu de vez as caras e a outra metade da casa ainda dorme, eu e K. já iniciamos mais um dia. Enquanto meu filho corre pro banho, arrumo a mesa de forma simples. Deixo lá sua caneca com leite, umas frutas lavadas & tals. Na cozinha, aproveito e mando um copo de água com o suco de um limão, para depois preparar o café no velho coador de pano, que me segue há anos.

Já passava das sete da manhã quando pegamos nossos longs e fomos pra rua. Por conta do asfalto ruim descemos todos os dias com os longs embaixo do braço até uma avenida coberta, de descida suave e regular, que fica há duas quadras de casa. Geralmente essa avenida tem um trânsito de carros que se intensifica no decorrer do dia, mas nesse horário costuma ser bem tranquilo, o que torna menos perigoso nosso trajeto. Mas nesse dia em especial, quase chegando à avenida, não ouvíamos e nem víamos ainda, nenhum carro se quer. Ao chegar lá, percebemos que a avenida estava fechada e já quase no final da descida, estavam  montado a estrutura de um imenso palco.

Sem pensar duas vezes subimos até seu início para aproveitarmos mais a sessão. Trocamos as mochilas como de costume (já que a mochila dele, por incrível que pareça é dez vezes mais pesada que a minha!) e descemos tranquilamente a avenida explorando toda sua largura e extensão. Sem carros, o asfalto era nosso.

Bem, o plano era parar quando chegássemos até as obras do palco, pois não havia passagem pelas laterais por conta de tantas ferragens, operários e containers. Mas enquanto nos aproximávamos, percebi que dava pra passarmos por baixo da estrutura do palco (!) e sem pensar duas vezes, olhei pra trás e gritei para ele:

- Não para! Não para! Bora! Bora!

Em questão de segundos, fomos abraçados por aquela imensa onda de ferragens, canos & parafusos que se fechava bem em cima de nós! Enquanto percorríamos com perfeição nosso “tubo” veio àquela sensação mágica. Sabe aquela coisa de você olhar em volta e tudo ao seu redor parece estar em slow motion?! Pois é. Segundos transformaram-se em longos minutos. Mas, tão logo passávamos por baixo do palco tivemos que colar ainda mais no deck, pois já na saída havia um cabo de aço tensionado que amarrava a estrutura e cortava a altura da passagem pela metade! Foi meio apavorante dar de cara com isso, mas ao mesmo tempo, muito irado também!

Quando saímos do outro lado do palco, a Serra da Mantiqueira, iluminada pelos primeiros raios de sol, descortinava-se entre os prédios bem a nossa frente. Então nos olhamos tempo suficiente para reconhecer nossos próprios sorrisos no rosto do outro. Enfim, não havia sido nada demais para quem assistiu a cena de fora, mas ter seu filho ao lado para viver e compartilhar essa experiência de maneira tão íntima e intensa é de uma cumplicidade infinita, memorável!

Era a vida acontecendo dentro da vida e no final das contas, para nós restava apenas à certeza de termos sido parte da melhor parte dela.

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