Concrete Slidery from Nathan Oldfield on Vimeo.
Todos os dias, ainda quando o sol não deu de vez as caras e a outra metade da casa ainda dorme, eu e K. já iniciamos mais um dia. Enquanto meu filho corre pro banho, arrumo a mesa de forma simples. Deixo lá sua caneca com leite, umas frutas lavadas & tals. Na cozinha, aproveito e mando um copo de água com o suco de um limão, para depois preparar o café no velho coador de pano, que me segue há anos.
Já passava das sete da manhã quando pegamos nossos longs e fomos pra rua. Por conta do asfalto ruim descemos todos os dias com os longs embaixo do braço até uma avenida coberta, de descida suave e regular, que fica há duas quadras de casa. Geralmente essa avenida tem um trânsito de carros que se intensifica no decorrer do dia, mas nesse horário costuma ser bem tranquilo, o que torna menos perigoso nosso trajeto. Mas nesse dia em especial, quase chegando à avenida, não ouvíamos e nem víamos ainda, nenhum carro se quer. Ao chegar lá, percebemos que a avenida estava fechada e já quase no final da descida, estavam montado a estrutura de um imenso palco.
Sem pensar duas vezes subimos até seu início para aproveitarmos mais a sessão. Trocamos as mochilas como de costume (já que a mochila dele, por incrível que pareça é dez vezes mais pesada que a minha!) e descemos tranquilamente a avenida explorando toda sua largura e extensão. Sem carros, o asfalto era nosso.
Bem, o plano era parar quando chegássemos até as obras do palco, pois não havia passagem pelas laterais por conta de tantas ferragens, operários e containers. Mas enquanto nos aproximávamos, percebi que dava pra passarmos por baixo da estrutura do palco (!) e sem pensar duas vezes, olhei pra trás e gritei para ele:
- Não para! Não para! Bora! Bora!
Em questão de segundos, fomos abraçados por aquela imensa onda de ferragens, canos & parafusos que se fechava bem em cima de nós! Enquanto percorríamos com perfeição nosso “tubo” veio àquela sensação mágica. Sabe aquela coisa de você olhar em volta e tudo ao seu redor parece estar em slow motion?! Pois é. Segundos transformaram-se em longos minutos. Mas, tão logo passávamos por baixo do palco tivemos que colar ainda mais no deck, pois já na saída havia um cabo de aço tensionado que amarrava a estrutura e cortava a altura da passagem pela metade! Foi meio apavorante dar de cara com isso, mas ao mesmo tempo, muito irado também!
Quando saímos do outro lado do palco, a Serra da Mantiqueira, iluminada pelos primeiros raios de sol, descortinava-se entre os prédios bem a nossa frente. Então nos olhamos tempo suficiente para reconhecer nossos próprios sorrisos no rosto do outro. Enfim, não havia sido nada demais para quem assistiu a cena de fora, mas ter seu filho ao lado para viver e compartilhar essa experiência de maneira tão íntima e intensa é de uma cumplicidade infinita, memorável!
Era a vida acontecendo dentro da vida e no final das contas, para nós restava apenas à certeza de termos sido parte da melhor parte dela.
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