terça-feira, 17 de agosto de 2010

"Without thought": Infinita(mente) agora


without thought trailer from Ollie Banks on Vimeo.

"Feeling connected to nature is the best thing about surfing, this film searches that connection." 
Dan Crockett (entrevista para o site Korduroy)

 Foram dez anos entre idéia e realização, para surgir um documentário breve, de doze minutos apenas, porém com um argumento poderoso e muito instigante por sua natureza subjetiva e sensível. Rodado a seis mãos por Ollie Banks, Daniel Crockett e John Eldridge, "Without thought" (2010) lança um olhar sensível e apurado sob o momento de comunhão no surf, entre o homem e a natureza, entre o estado de fluição do surfista e sua experiência de fruição na onda. A fim de articular esses significados, o filme é ilustrado com a entrevista de um antigo surfista do nordeste inglês, Mark Dickison.

DVD e prints que acompanharam as 30 primeiras edições.

Sem dúvida alguma essa significativa experiência de unicidade, já vivenciada por alguns riders, é acima de tudo uma experiência solitária, interior e para muitos, espiritual. Parece-me que essa experiência surge apenas quando conseguimos nos libertar de nossa mente conceitual, pois é a partir dessa mente densa, que estabelecemos a (distorcida) percepção primária do "eu" e do "outro". A partir da qual nos separamos do mundo, pois passamos a apreender e reconhecer absolutamente todos os fenômenos ao nosso redor de maneira dual, como se existissem inerentemente, de forma autônoma e em separados de nós. Negamos então nossa condição dependente-relacionada e sistêmica de existência.

Dessa forma, vivendo de maneira auto-centrada, a partir dos nossos próprios interesses e desejos (em detrimento dos outros seres e do próprio meio em que vivemos), nos colocamos em absoluta desarmonia com esse organismo vivo do qual somos uma parte ínfima, porém essencial. Não distante, nos deparamos hoje diante de um eminente colapso ambiental.

Portanto, quando conseguimos nos libertar dessa mente conceitual e seus pensamentos distrativos, seremos capazes de reconhecer nossa natureza última e então nos posicionar harmoniosamente no mundo. Para essa aventurosa jornada interior, precisamos apenas nos manter plenamente atentos ao agora, ao tempo presente, que em última instância, é o único momento onde a vida efetivamente acontece, onde o verbo não conjuga passado nem futuro, onde não há adjetivos, onde as coisas simplesmente são o que são, únicas, porém integradas. Então descobriremos a impermanência e transitoriedade pulsante no presente que faz com que tudo se organize em constante transformação e mudança. Isso torna nossa vida especial, pois são instantes que não se repetem jamais.

Quando não percebemos a fugacidade que permeia tudo, criamos rotinas maçantes e superficializamos nossas relações pessoais e nossas experiências diárias. Então, cada onda surfada, cada ladeira percorrida, torna-se experiências banais e sem essência alguma. Simplesmente estamos desperdiçando a vida que nos acontece, a qual poderíamos vivenciá-la da melhor forma possível.

Bem, sobre "Without thought" creio que é uma belíssima tentativa de desvendar esse sublime momento quando seremos como a água vertendo na água, sem separação, nem discriminações e quando esse instante chegar meus caros, a onda deixará de existir, assim como o próprio surfista e a mente que os apreende. Nos tornaremos então, perfeitamente unos (novamente).

Foto: Ollie Banks.

4 comentários:

  1. muito boa resenha... quanto mais filmes que evidenciem a poesia do surf, melhor! parabens pelo conteúdo do blog.

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  2. Puxa que surpresa! Valeu Luciano! Pô, preciso te confessar que sou um ávido leitor do Surf&Cult!

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  3. Cara tava fazendo o post no blog e procurei por imagens na net e não é caio aqui no teu blog, conexion. Muito bommmm o seu texto, serio mesmo. Que bom que partilhamos esse feeling. ALOHA irmão.

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  4. Grande Cau!
    Estamos todos íntimamente ligados meu caro!!!
    Vamos nessa!
    Big aloha!

    Lin.
    60POLEGADAS

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